Transtorno neurobiológico possui causas genéticas, afeta cerca de 5% das crianças e pode persistir na vida adultaReprodução/internet

Olá, meninas!
Na semana ada abordei no programa Vem com a Gente, transmitido na Band Rio, um assunto muito importante que envolve a nossa saúde e a saúde de nossos filhos. Trata-se do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido como TDAH. Provavelmente você conhece alguém que lida com esta condição. Afinal, o transtorno atinge aproximadamente dois milhões de brasileiros.
O diagnóstico precoce se faz fundamental para minimizar os impactos do TDAH. Pensando nisso, conversei com o meu querido amigo dr. Ervin Cotrik, psiquiatra formado pela UFRJ, para tirar importantes dúvidas acerca do transtorno. Confira abaixo a entrevista:
O que é TDAH, seus principais sintomas, e como se manifesta em crianças e adultos?
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico de causas genéticas que afeta cerca de 5% das crianças e pode persistir na vida adulta.

Caracteriza-se por três sintomas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade, que interferem no desempenho escolar, profissional e social. Em crianças, manifesta-se por agitação constante, dificuldade em permanecer sentadas, fala excessiva, distração fácil e esquecimento frequente de materiais e tarefas. Nos adultos, os sintomas incluem dificuldade em organizar e planejar atividades diárias, deixar tarefas incompletas, procrastinação e estresse ao lidar com múltiplos compromissos, além de inquietação interna em vez da hiperatividade física observada nas crianças.

Como o diagnóstico de TDAH é realizado? Existe algum exame específico para confirmar o diagnóstico?

O diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico. Não existe um exame laboratorial ou de imagem específico que confirme o transtorno. Entretanto pode ser solicitado a testagem neuropsicologica para ter uma visão mais aprofundada das dificuldades atencionais e também investigar outros problemas que frequentemente acompanham o TDAH (como, por exemplo, problemas de leitura).

É possível que o TDAH seja diagnosticado em adultos, mesmo que não tenha sido identificado na infância?

Sim, é perfeitamente possível diagnosticar o TDAH em adultos que não foram identificados na infância. Estudos indicam que cerca de 60% das crianças com TDAH continuam apresentando sintomas na vida adulta, embora muitas vezes com manifestações diferentes. Alguns adultos desenvolveram estratégias compensatórias durante a infância e adolescência que mascararam os sintomas, ou tiveram formas mais leves do transtorno que não comprometeram significativamente seu desempenho escolar. O diagnóstico tardio geralmente ocorre quando as demandas da vida adulta, como responsabilidades profissionais e familiares, tornam os sintomas mais evidentes e problemáticos. A avaliação em adultos inclui uma investigação retrospectiva da infância, mas reconhece que os sintomas podem ter ado despercebidos anteriormente.

Quais são as diferenças entre o TDAH e outros transtornos, como ansiedade ou depressão, que podem ter sintomas semelhantes?

Embora TDAH, ansiedade e depressão possam apresentar sintomas sobrepostos, como dificuldade de concentração, existem diferenças importantes. No TDAH, a desatenção é persistente e presente desde a infância, enquanto na ansiedade, a dificuldade de concentração ocorre principalmente durante períodos de preocupação intensa. A inquietação no TDAH é constante e involuntária, já na ansiedade está ligada a preocupações específicas. Na depressão, a falta de concentração associa-se à perda de interesse e energia, diferente da distração por estímulos externos típica do TDAH. Outro ponto importante é que o TDAH geralmente começa antes dos 12 anos e persiste cronicamente, enquanto ansiedade e depressão tendem a surgir em períodos específicos da vida. Vale ressaltar que esses transtornos podem coexistir, o que torna essencial uma avaliação clínica cuidadosa.

Quais são os fatores que mais contribuem para o desenvolvimento do TDAH? Genética, ambiente ou ambos?

O TDAH resulta de uma combinação de fatores genéticos e ambientais, com a genética desempenhando papel predominante. Estudos com gêmeos e famílias mostram que o transtorno tem alta hereditariedade, estimada entre 70% e 80%. Filhos de pais com TDAH têm risco aumentado de desenvolver o transtorno. Contrariando crenças populares, pesquisas científicas não confirmaram que dietas ricas em açúcar ou aditivos alimentares causem TDAH, embora possam agravar temporariamente os sintomas em algumas crianças predispostas.
Convido todas vocês a me acompanharem pelo Instagram (@gardeniacavalcanti) e no programa Vem com a Gente, transmitido ao vivo pela Band Rio, de segunda a sexta, a partir das 13h40. Te espero lá!