Thiago Flausino de 13 anos, morreu depois de ser baleado em uma operação na Cidade de DeusReprodução/Redes sociais

Rio - A Justiça do Rio manteve, nesta quarta-feira (11), a prisão dos policiais militares Diego Pereira Leal e Aslan Wagner Ribeiro de Faria, envolvidos na morte do adolescente Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, assassinado a tiros durante uma operação policial na Cidade de Deus, Zona Oeste, em 2023. Na mesma decisão, os agentes Silvio Gomes dos Santos e Roni Cordeiro de Lima tiveram o alvará de soltura expedido. Os quatro estavam presos desde maio do ano ado pelo crime de homicídio.

Para a decisão, a juíza Elizabeth Machado Louro analisou alguns depoimentos. Dentre eles, o do amigo da vítima, que presenciou o ocorrido. Segundo a testemunha, os dois estavam circulando na comunidade na motocicleta do pai de Thiago quando, em certo ponto, acabaram por perder o equilíbrio e cair. Ele narrou que, enquanto tentavam reerguer a motocicleta, foram surpreendidos com a aproximação de um carro descaracterizado, de onde os ocupantes saíram já disparando contra eles.

O rapaz contou que conseguiu fugir ao embarcar na garupa de um mototaxista e seguir em direção a sua casa, enquanto Thiago permaneceu caído no chão. O sobrevivente disse ainda que viu apenas o ocupante do banco do carona sair do carro, o qual teria disparado contra ele. No entanto, ele não conseguiu reconhecer o rosto de nenhum dos acusados.

Depoimento dos PMs

De acordo com as declarações dos PMs em seus interrogatórios, na noite dos fatos, havia uma operação na comunidade da Cidade de Deus para coibir a realização de um baile funk irregular. Eles alegaram que estariam utilizando o automóvel de Roni Cordeiro, atendendo a pedido de seus superiores para que pudessem operar dois drones, a fim de monitorar a região e identificar a melhor estratégia para que as equipes pudessem ar o interior da comunidade.

Em depoimento, eles disseram ainda que com o fim da operação com os drones, seguiram para um posto de combustível próximo à comunidade, onde os acusados se juntariam aos demais policiais envolvidos na operação, à exceção apenas de Roni, que estava à paisana e voltaria para o batalhão em seu próprio carro.

Enquanto eles aguardavam embarcados no veículo, a motocicleta das vítimas teria ado pelo posto de combustível, momento em que alegam terem visto Thiago portando uma arma. Os agentes afirmam que resolveram seguir as vítimas e quando elas caíram com a motocicleta, resolveram abordá-las. Na sequência, Aslan teria, então, descido do banco de trás, atrás do motorista, e ido em direção às vítimas para abordá-las, momento em que, segundo relato dos réus, teriam sido efetuados disparos contra a equipe.

De acordo com o interrogatório de Diego Leal, ele estava sentado no banco do carona e, ao ouvir os disparos, imediatamente desembarcou do carro e pôde ver Thiago atirando contra eles, confirmando que disparou contra ele nesse momento. Já Aslan confirmou que foi o primeiro a desembarcar, relatando que deu ordem de parada para as vítimas, mas que, nesse momento, Thiago teria atirado contra
ele, que revidou, efetuando dois disparos contra a vítima, embora não saiba dizer se foram
esses os tiros que o atingiram.

"A prova também evidenciou que, dos quatro acusados, apenas Diego e Aslan efetuaram disparos contra as vítimas, o que item os próprios réus, embora alegue que o fizeram em legítima defesa. Sendo assim, restou suficientemente indiciada a autoria quanto aos acusados Diego e Aslan, porém, não em relação a Silvio e Roni, o que, inclusive, faz com que o órgão da acusação requeira sejam eles impronunciados", diz um trecho da decisão.
Família defende inocência da vítima
Na ocasião, o pintor Hamilton Menezes, tio do rapaz, contou que a família teve o a uma câmera de segurança da região, cujas imagens mostrariam o momento em que um agente atira contra o jovem.
"Ele estava eando de moto com um amigo em uma das ruas da Cidade de Deus, onde foram abordados já a tiros. Uma bala pegou na perna do jovem e ele caiu. [Pelas imagens], dá para ver o T. M F. no chão, ainda vivo, e o policial vai lá e acaba de executar", disse.
Um dia depois da morte do jovem, a PM retirou do ar uma postagem que criminalizava o menino. A exclusão aconteceu após a Defensoria Pública do Rio (DPRJ) entrar com uma ação judicial. Segundo a PM, a postagem no Twitter oficial da corporação é feita a partir das informações preliminares adas pelos policiais que participaram da ação.
No entanto, o comando da corporação decidiu retirar a publicação, pois entendeu que o caso está sob análise e investigação. O post, feito às 5h44 do dia 7 de agosto e afirmava que "um criminoso [havia ficado] ferido ao entrar em confronto". Mais de um milhão de pessoas viram a postagem.
Em agosto, a Corregedoria da PM indiciou os policiais envolvidos na ação. A investigação apurou que houve fraude processual, omissão de socorro e abuso de autoridade. O inquérito apontou que os agentes omitiram o socorro do menino e divulgaram informações incompletas "por livre e espontânea vontade" para atrapalhar a investigação sobre o caso. Na decisão, a Corregedoria destacou que, se os policiais ficassem soltos, eles seriam capazes de apagar evidências do crime e pressionar testemunhas.